Porque a Scania não “relançou” a 113 ao invés de fazer uma serie limitada?
Texto de Érico Pimenta. Editor-Chefe do Midia Truck Brasil.
Você já deve ter visto (até mesmo porque
antes do lançamento, fotos da série limitada vazaram na internet) a nova série
limitada da Scania, que usa como base os modelos R440 e R480 e faz uma
homenagem ao Scania 113 (série 3) o modelo mais icônico da montadora no Brasil.
A nova série limitada, terá apenas 60
unidades com dois níveis de acabamentos, que serão oferecidos como clássico e clássico
estilo, porém ambas terão a cabine CR-19-H (HIGHLINE), além de bancos em
couros, rodas alcoas com calotas e a grande na pintura da cabine (ponto no qual
a Scania acertou deste a Griffin Edition).
Porém,
muitos comentavam ou se perguntavam porque a Scania não relançou a 113 em uma versão
mais moderna com motores atuais ou simplesmente como era antigamente. Bem a
resposta para esse comentário não é tão simples quanto se parece. Mas antes,
vamos entender alguns pontos.
Em entrevista concedida ao Blog Caminhões e
Carretas, Celso Mendonça (gerente de desenvolvimento de negócios da montadora
no Brasil) ele explicou que essa série limitada não é uma releitura da Scania
113, mas sim uma homenagem de um caminhão que foi o precursor de todas as preocupações
da Scania, que se tornaram o foco principal nos anos seguintes, como exemplo,
respeito e valorização do motorista e a alta produtividade aliada ao baixo
custo de operação.
Além
disso, Celso também menciona um ponto importante, o 113H foi um marco inicial
da transição dos modelos bicudos para os modelos com cabine avançada no Brasil
(cara-chata). O que não deixa de ser verdade, já que durante a série 4 (Lançada no Brasil em 1998) os modelos bicudos já não vendiam tanto é que quando falamos em séries especiais, apenas duas séries especiais
saiu para modelos bicudos da série 4 que foram a Millenium (limitada a 1.000
unidades) e a série Horizonte, que fazia uma homenagem ao famoso Jacaré.
A Scania terminou a produção oficial de
modelos bicudos na Europa em outubro de 2005, é o release ou anuncio a imprensa
foi divulgado pela empresa em 22 de abril de 2005. A Scania afirmou neste
comunicado que as vendas na Europa em 2004 somaram menos de 1.000 unidades, um número
muito baixo, além de que os modelos com cabine avançada têm suas vantagens.
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R-Series
lançada na Europa em 2004. Modelos T ainda eram produzidos, com novo interior.
O modelo mais top era o T580 V8 Topline.
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Relançar.
Dinheiro, tempo e burocracias.
Agora chegamos ao ponto do texto. Porque a
Scania não refez uma versão mais moderna da 113 ou simplesmente não fabricou
umas poucas unidades? Afinal, ela já fabricou uma vez, pode fabricar novamente.
Bem não é assim que as coisas funcionam.
Fabricar um caminhão já é um processo
trabalhoso, tecnológico e caro, sim, bastante caro. Ainda mais no Brasil. Vamos
supor que a Scania resolva relançar a 113 com toda a modernidade e eletrônica de
hoje. Primeiro, ela ia ter que atualizar todo o projeto do 113, fazer uma alteração
ou outra, até mesmo para caber o novo motor, tanque de arla, catalizador,
filtros de ar mais eficientes e compatível com o motor Euro5, além de usar materiais
mais leves e resistentes.
Após dá uma atualizada em todo o projeto, começa a parte de testes e burocracia. Quando uma montadora está trabalhando em um novo projeto, além de registrar o desenho do modelo no sistema de patentes (que muitos carros têm sido revelados por suas imagens de patente vazarem na internet) ela tem que fazer testes exaustivos, um exemplo disso é a nova Scania já encontra com 4 unidades de testes no Brasil. (Duas ficam na região de Montes Claros MG) uma OFF Road fica no interior de São Paulo e outra foi vista no final do ano, também na região do interior de São Paulo, porém essa já estava emplacada se tratava de um modelo equipado com o motor de 620 cv V8. Esses testes podem durar anos, já que se fazem teste de clima, terreno, quilometragem, esforço de trabalho, componentes e assim vai.
Depois de realizar todos os testes, a
montadora tem que homologar o veículo, ou seja, o veículo é mais uma vez
submetido a testes regulamentados para ter a aprovação para rodar no Brasil.
Homologado, começa a sua pré-produção, e aqui
fica uma curiosidade. Já notou como em grande parte os jornais ou portais de notícias
falam montadora ao invés de fábrica de caminhões? Isso se dá ao fato de que a
maioria das peças e componentes do caminhão não são feitos na fábrica, e sim so
são montados, é isso e parte da pré-produção de um modelo, onde você tem que
mandar o novo projeto para seus fornecedores para eles fabricarem os
componentes, como vidro, bancos, interiores, e assim vai.
Outra parte também e a atualização da linha de
Montagem. Os robôs que fazem as soldas devem receber uma atualização de
software para “conhecer” os novos pontos de soldas, ou seja, para soldar as
partes da cabine e outros.
Esses detalhes são só para fabricar, ainda
falta dar treinamento a rede de concessionários, campanhas de marketing entre
outros, e por isso que as vezes recebemos modelos atrasados.
No final, como podem notar, é um processo longo, demorado e caro fazer um caminhão, e no final investir um alto valor, não estamos falando de valores na casa de mil, mas de milhão, para apenas ser uma série limitada ou especial.
A Scania sempre mandou bem em suas series
especiais, eu mesmo, quem escreve esse longo artigo não teria criatividade para
desenvolver uma. Se olhamos para a primeira série especial de 1991 até a atual,
a Scania fez ótimas series, algumas, claro, ficam mais na memória do que
outras, como a Millenuim, Rei da Estrada e Silver Line por exemplo. A nova série
limitada não faz feio, traz detalhes únicos como a grade na cor do veículo, acessórios
internos, e claro que quando olhamos para as series limitadas da Europa,
sentimos faltas de alguns detalhes, como a já clássica placa na parte de trás
da cabine com o nome e número da série limitada. Mas no fim, o 113 recebeu uma bela homenagem, e acredito
que não será a única.
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