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Foto ilustrativa por Najia Zerbetto Furlan |
Número equivale a dois anos e meio de produção, levando-se em conta o que foi fabricado de 2014 a 2016
Via
Estado de Minas.
Cerca de 200 mil caminhões estão parados nas
empresas de transporte de cargas do país. O número equivale a dois anos e meio
de produção, levando-se em conta o que foi fabricado de 2014 a 2016. A crise
econômica que resultou na queda generalizada do consumo e a paralisação de
obras por parte de construtoras envolvidas na Lava Jato, assim como da
Petrobras, levou a uma ociosidade recorde de veículos que transportam
alimentos, eletroeletrônicos, materiais de construção e veículos, entre outros
itens. Pesquisa realizada em janeiro pela Associação Nacional de Transporte de
Cargas e Logística (NTC&Logística) constatou que mais da metade das
transportadoras brasileiras tinham, em média, 10% de suas frotas paradas. Pelos
cálculos do presidente da entidade, José Hélio Fernandes, havia no início do
ano pelo menos 200 mil veículos encostados. O número pode ter reduzido nesses
últimos meses em razão da demanda por transporte de grãos, mas, ainda assim, a
ociosidade é elevada, avalia Fernandes.
A TSA Cargo, com sede em Guarulhos e filiais
em Santos e Campinas, no estado de São Paulo, mantém quase 20% de sua frota de
180 veículos encostada em quatro pátios. A empresa atua principalmente no
transporte de mercadorias importadas ou destinada à exportação. De 2013 para
cá, o faturamento caiu à metade, para cerca de R$ 3,5 milhões. “O setor está em
colapso, na UTI, respirando com aparelhos”, define Paulo Scremim, presidente do
grupo criado há 25 anos. Dos 420 funcionários que tinha em 2013, quando a crise
se aprofundou, a TSA mantém atualmente 270. “Tive de demitir pessoal
qualificado, alguns deles estavam na empresa há 20 anos”, informa o empresário.
“Assim que ocorrer uma recuperação do mercado, vou recontratar o que for
possível.” De acordo com o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes
de Cargas de São Paulo (Setcesp), Tayguara Helou, além dos caminhões parados,
aqueles que continuam operando circulam com pouca carga, impedindo assim que a
operação seja superavitária. “O desdobramento disso será a falta de capacidade
do setor em investir em renovação de frota, infraestrutura, treinamento de
pessoal e melhoria da qualidade. Transportar carga mal remunerada é um perigo
constante, pois a empresa perde a capacidade de fazer a manutenção nos veículos
e de operar com pessoal mais qualificado”, afirma.
Sócio da Braspress – empresa de transporte de
cargas fundada há 40 anos por seu pai e hoje com 93 filiais por todo o Brasil e
frota de 2.350 veículos próprios e 1,6 mil terceirizados –, Helou afirma “nunca
ter visto crise tão forte no setor”. Para Fernandes, da NTC&Logística,
somente quando a indústria aumentar a produção e o comércio reagir, “a roda
voltará a rodar”. Para o sócio da consultoria PricewaterhouseCoopers, Marcelo
Cioffi, mesmo que o mercado melhore ao longo dos próximos meses, “as
transportadoras primeiro vão colocar os veículos que estão parados na rua, para
depois renovar a frota”. A recuperação
da produção, portanto, pode levar mais tempo já que transportadoras e empresas
com frota própria detêm 65% da frota de caminhões que circulam pelo País. A
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) tem registrados 1,67 milhão
de caminhões aptos a realizar fretes, segundo dados atualizados neste mês.
RENOVAÇÃO Roberto Cortes, presidente da
fabricante de caminhões e ônibus MAN Latin América, cita o exemplo dos
atacadistas que, segundo ele, tradicionalmente renovavam suas frotas a cada
dois anos. “Quando o nível de confiança
melhorar e questão política se equalizar, esses clientes vão voltar, pois não é
interessante para eles manter caminhões velhos”, diz o executivo.
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