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Transportadoras tem investido na contratação de mulheres por sua prudência. Foto: Volvo Trucks |
De acordo com levantamento da Justos, seguradora que recompensa motoristas conscientes, 77% das mulheres evitam o celular ao dirigir e 87% prestam atenção constante à sinalização
Apesar do ditado popular "mulher no volante, perigo constante",
diferentes estudos já demonstraram que essa frase não passa de puro
preconceito. No ano passado, por exemplo, o Departamento de Trânsito do
Distrito Federal (Detran- DF) divulgou dados provando que elas se envolvem
menos em acidentes graves do que os homens. Das ocorrências fatais registradas
entre janeiro e abril de 2024 na capital brasileira, 87,33% tinham homens
atrás do volante, enquanto apenas 8,99% envolviam motoristas do gênero
feminino.
Diante desse estudo e de tantos outros que já comprovaram o mesmo, fica
a pergunta: quais fatores contribuem para que as mulheres sejam motoristas
mais prudentes? "Queríamos investigar mais a fundo a questão para entender como é o
comportamento feminino no trânsito e identificar os hábitos que fazem
delas motoristas mais prudentes. O que encontramos reforça algo que
estudos já apontam há tempos: a direção das mulheres tende a ser mais
cautelosa, com menos tomadas de risco desnecessárias", conta Dhaval Chadha, CEO e cofundador da Justos.
Uma das descobertas diz respeito a um dos principais inimigos da direção
segura: o celular. A Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet)
indica que, atualmente, o uso do aparelho ao volante é a principal causa de
falta de atenção ao conduzir e que a possibilidade de um condutor se envolver
em um acidente ao ler uma mensagem é 400% maior do que aquele que permanece
atento. Felizmente, a grande maioria das mulheres está livre desse risco.
Isso porque, do total de 324 respondentes, 77% evitam o uso do celular
ao dirigir. Acerca dessa questão, a pesquisa também investigou com que
frequência as motoristas utilizam o aparelho e o resultado mais uma vez foi
positivo: 37% afirmam que nunca usam e outras 42% disseram que só raramente,
em caso de uma emergência.
Além dessa medida de segurança, outros bons hábitos cultivados por
muitas mulheres são prestar atenção constantemente à sinalização e aos
pedestres (87%), evitar ultrapassagens arriscadas (80%) e garantir que todos
estejam usando o cinto de segurança (76%). Este último cuidado pode parecer
insignificante, mas a realidade é que a população brasileira têm deixado essa
prática de lado. De acordo com levantamento da Arteris divulgado no ano
passado, cresceu em 29% o número de veículos leves vítimas de acidentes que
não utilizavam cinto de segurança.
"Os dados mostram que as mulheres não só dirigem com mais cautela, mas se
preocupam com a segurança de todos dentro e fora do carro. Garantir que os
passageiros estejam com o cinto de segurança, respeitar a sinalização,
preocupar-se com os pedestres e evitar ultrapassagens arriscadas são
hábitos que fazem uma grande diferença na redução de acidentes. Precisamos
valorizar comportamentos assim, responsáveis, e incentivar mudanças que
tornem as ruas mais seguras para todos", explica Dhaval. Vale lembrar que, segundo a Abramet, o uso do cinto reduz
em até 60% o risco de morte e de ferimentos graves para passageiros nos bancos
da frente e em até 44% para ocupantes dos bancos de trás de veículos
envolvidos em sinistros de trânsito.
Boas motoristas, mas ainda alvo de preconceito
Mesmo adotando estas boas práticas, as respondentes disseram que já
enfrentaram preconceitos ou comentários negativos por estarem ao volante — e a
frequência com que as motoristas vivem essa situação não é baixa. Do total das
pesquisadas, 32% informaram que já passaram por isso algumas vezes e 23%
afirmaram que falas preconceituosas e/ou depreciativas são frequentes. "O fato de tantas mulheres ainda enfrentarem comentários preconceituosos
ao volante mostra como estereótipos ultrapassados continuam enraizados na
sociedade. Esses julgamentos não têm base em dados e acabam ofuscando uma
realidade muito clara: a prudência feminina no trânsito contribui
diretamente para a segurança de todos. Precisamos mudar essa mentalidade e
reconhecer que a competência ao dirigir deve ser medida pelo comportamento
responsável, e não pelo gênero", analisa Dhaval.
Apesar dessa cultura que faz chacota de mulheres no trânsito, elas sabem
que se saem bem no asfalto. É que 61% das entrevistadas disseram que se
consideram boas motoristas e outras 34% avaliariam seu desempenho
positivamente, mas acreditam que podem aprimorá-lo. Já quando o assunto é
avaliar a condução masculina em comparação a feminina, 64% responderam que
acham que, de forma geral, as mulheres são mais prudentes do que os homens.
Quando questionadas sobre o que contribui para a falta de segurança no
trânsito, elas apontaram principalmente o consumo de álcool ou drogas antes de
dirigir (83%), seguido de excesso de velocidade (79%) e de comportamento
agressivo do motorista (77%). Falta de atenção (76%), uso do celular ao
volante (73%), más condições das vias (64%) e dirigir com sono ou fadiga (60%)
também foram razões muito citadas.
"Quando analisamos os principais fatores que tornam o trânsito inseguro –
como alta velocidade, direção agressiva e o consumo de álcool – fica claro
que essas condutas estão muito mais associadas ao comportamento de risco,
que é predominante entre os homens. As mulheres, por outro lado, adotam
uma postura mais defensiva, contribuindo para um ambiente mais seguro. Se
quisermos reduzir acidentes e salvar vidas, é essencial incentivar esse
tipo de direção e combater a cultura da imprudência", destaca Dhaval.
Sobre os pontos de melhoria, a pesquisa da Justos identificou que o
público feminino poderia desenvolver o hábito de verificar os freios, pneus e
luzes antes de dirigir — 57% disseram fazer isso ao dirigir. Contudo, ainda
assim, esse grupo já está muito à frente de tantos outros e serve de exemplo
para inspirar os demais a contribuir com um trânsito mais seguro e responsável
para todos, reforçando que a segurança deve ser uma prioridade compartilhada
entre todos os motoristas, independentemente do gênero.