Valor do diesel impacta na lucratividade dos caminhoneiros. Foto Scania Japan Ltd |
Se três anos atrás alguém me dissesse que um vírus tomaria conta do
mundo e o viraria de cabeça para baixo, transformando completamente a
maneira de viver e trabalhar, eu simplesmente não acreditaria. Pandemia,
máscara N95, quarentena, lockdown, novo normal... O que é isso?
E se essa pessoa contasse que uma consequência seria o diesel
ultrapassar o valor da gasolina e ainda ter o risco de faltar, eu daria
risada e a chamaria de vidente barata.
Só que, por incrível que pareça, o dia 30 de junho de 2022 ficará
marcado como data em que o que nunca ninguém imaginaria aconteceu. O preço
médio do diesel atingiu uma média de R$ 7,87 o litro, valor 9,8% mais caro
ao se comparar a maio.
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Sabe aquele filme, "O dia em que a Terra parou"? Pois é assim que eu
me sinto, custo a acreditar. O diesel S-500 está ainda mais caro, uma média
de R$ 8 nos postos de todo o país. Apesar de que a situação é tão crítica
que parece mais um filme de terror.
O primeiro semestre de 2022 fechou com o triste recorde de 36,4% no
diesel comum e 37,3% no diesel S-500, de acordo com dados do IPTL. Segundo a
ANP, desde 2004 isso não acontecia. E a gangorra de preços é absurda Brasil
afora. A agência registrou máxima de R$ 9,15 por litro do diesel no Mato
Grosso e mínima de R$ 6,37 em São Paulo.
"Estão gostando da baixa dos combustíveis?" perguntou o presidente
Bolsonaro durante um compromisso na Bahia. Sim, a gasolina baixou em algumas
cidades depois de promulgada a lei que limitou a cobrança de ICMS dos
combustíveis. Mas nenhum sinal do diesel ainda.
E a alegria pode durar pouco. Governadores de 11 estados e do Distrito
Federal questionam trechos da lei, já que ela atinge em cheio a maior fonte
de arrecadação dos estados -- justamente esse tributo. O STF deu um prazo de
10 dias para que o presidente, a Câmara dos Deputados e o Senado se
explicassem.
Uma luz no fim do túnel acende uma esperança. O Senado aprovou uma
proposta de auxílio para os caminhoneiros de R$ 1 mil, válida até o final
de 2022. Mas ela só vai valer depois que passar pela Câmara dos Deputados.
Medida populista, com certeza é melhor do que nada.
E, enquanto os poderosos lutam para decidir quem é o mais forte, quem
sofre mais é quem está na base da cadeia alimentar. Ou seja, os
caminhoneiros.
No dia 24 de junho a ANTT publicou uma nova tabela com o reajuste dos
preços mínimos do frete rodoviário. O aumento médio ficou entre 7,06% a
8,99%, variando conforme o tipo de carga, número de eixos, distância do
deslocamento e tipo de operação.
Por lei, a agência precisa atualizar os valores a cada seis meses ou
quando a variação do preço do diesel for igual ou superior a 5%. Nesse
último caso é acionado o mecanismo de gatilho. O último reajuste foi em 19
de março e de lá pra cá diversos aumentos pesados aconteceram.
E não adiantou os caminhoneiros reclamarem, o aumento continua
acontecendo baseado no preço do combustível nas refinarias, não no mercado.
Está cada vez mais difícil os motoristas sobreviverem e oferecerem uma vida
digna para as suas famílias. Manutenção do pesado, combustível, pedágio.
Fica difícil fechar a conta e o fim é drástico para alguns: vender o
caminhão e abandonar a boleia. A ANTT fez as contas, há cinco anos eram 919
mil motoristas autônomos, número que caiu para 696 mil em 2021, uma
diminuição de 24%. A saída é procurar emprego em transportadoras. Melhor ser
CLT, ganhar pouco e ter garantias do que praticamente pagar para trabalhar.
Para o embarcador, o frete pesa e fica difícil escapar do repasse para
o produto final. Uma saída, ao invés de colocar todas as fichas em uma
transportadora, pode ser optar pela primarização logística. Essa opção
possibilita que a empresa mesmo ou uma terceira fique a cargo da operação
logística usando motoristas autônomos.
A economia pode ser de até 30% no frete comparando com atravessadores
ou transportadoras. O motivo é que a estrutura da plataforma é muito mais
enxuta e conta com tecnologias que automatizam os processos. E isso se
reverte para o próprio caminhoneiro, que é melhor remunerado do que se
prestasse serviços para uma transportadora tradicional.
Ao fazer toda essa reflexão confesso que tenho medo do futuro, até
porque a ANP acabou de propor um aumento nos estoques. Como será o amanhã?
Vou perguntar a um vidente.
* Artigo escrito por Jarlon Nogueira, CEO da AgregaLog -- transportadora
digital que oferece soluções inovadoras de logística de transporte para a
indústria.