Pesquisa realizada a pedido da Abidip revela que medida gerará reação em cadeia nos preços ao consumidor e deve impactar inflação geral em até 0,25%, pressionando a meta
O aumento do Imposto de Importação incidente sobre pneus, de 16% para
35%, conforme solicitação da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos
(ANIP) à espera de votação na Câmara de Comércio Exterior (Camex), pode elevar
em 16% o preço final do produto para carros de passeio e 25% para caminhões e
ônibus. O impacto na inflação será, respectivamente, de 0,1% a 0,2% e 0,15% a
0,25%.
Os cálculos são de Nota Técnica solicitada pela Associação Brasileira
dos Importadores e Distribuidores de Pneus (Abidip) à Guimarães Consultoria
& Associados, empresa especializada em modelagem estatística e financeira
fundada em 1995. O estudo demonstra que a pretendida majoração tributária terá
consequências negativas para os consumidores e aumentará os custos
operacionais das empresas que dependem de transporte rodoviário.
Em nota técnica sobre o tema, a entidade pondera: “As previsões indicam tendência de expansão contínua nas vendas de pneus
ao longo dos próximos 12 meses. A demanda está crescendo e se
estabilizando em torno de média superior a três milhões de unidades
mensais, o que mostra sinais claros de equilíbrio e ampliação do mercado.
Nessa conjuntura, o aumento do Imposto de Importação não seria necessário.
Pelo contrário, manter a taxação atual incentivará a competição,
acessibilidade e inovação”.
Para a Abidip, também é perceptível que o aumento da alíquota de
importação de pneus tem o único objetivo de favorecer o segmento de
fabricantes nacionais, que é bastante concentrado quanto ao número de
participantes, com apenas 11 marcas, detendo a maior fatia do mercado
(63,06%). Contudo, para as 180 empresas importadoras com atuação sistemática,
que têm fatia de 36,94%, tal medida seria capaz até mesmo de inviabilizar sua
operação no mercado brasileiro.
Segundo Janderson Maçanero, conhecido como Patrola, uma das principais
lideranças dos transportadores autônomos, o aumento de imposto será muito
prejudicial e aumentará os custos, considerando que o pneu é o segundo insumo
mais oneroso, atrás apenas do diesel. “É impossível a gente ter caminhões com 30 anos de uso, que valem entre 50
mil e 70 mil reais, e pagar mais caro, no caso de 22 pneus, do que a nossa
ferramenta de trabalho. Será muito grande o impacto desse aumento no
quilômetro rodado para o pessoal do transporte rodoviário, que faz safra,
indústria, comércio e fretes interestaduais. A gente sabe que se onerar o
caminhoneiro há reflexo na mesa do brasileiro e no dia a dia de toda a
população”.
Samer Nasser, diretor de Relações Institucionais da XBRI Pneus, marca
brasileira de pneus e um dos maiores player do setor na América Latina,
salienta não proceder o pedido de aumento do Imposto de Importação, sob a
justificativa equivocada de que há concorrência desigual com os importados.
“Não é verdade, pois o custo de produção de pneus no Brasil é semelhante
ao dos concorrentes internacionais, mas os fabricantes nacionais preferem
não baixar os preços para competir de modo transparente, leal e ético no
mercado. Sua real intenção é continuar vendendo caro, confiantes no
indiscutível valor e tradição de suas marcas. Porém, os brasileiros vão
percebendo que existem muito mais atributos a serem considerados na hora
de comprar um pneu, em especial a qualidade”.
A nota técnica, apresentada pela Abidip ao Comitê de Alterações
Tarifárias da Camex, não só rebate os argumentos dos fabricantes, cuja fatia
de mercado apresentada anteriormente se mantém estável desde 2010, como alerta
o governo dos efeitos deletérios à economia de um país absolutamente
dependente do transporte rodoviário de cargas.
É importante destacar que, há uma década, a indústria nacional de pneus
é protegida por medidas antidumping contra produtos chineses. A Abidip analisa
que o cenário atual, com a alta do dólar e o frete marítimo custando em média
US$ 10 mil por contêiner, já é prejudicial aos importadores com a alíquota de
16%. Um aumento desproporcional para 35% resultaria no fechamento de muitas
empresas e na perda de inúmeros empregos.