Durante uma experiência percorrendo alguns países europeus, empresários entendem a eficiência e segurança com maiores investimentos no trânsito
As condições das estradas e das rodovias no Brasil são objeto de
constante debate, especialmente à luz dos resultados recentes das pesquisas
anuais conduzidas pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). Os dados de
2023 revelaram que impressionantes 65,7% das malhas rodoviárias encontram-se
em estado crítico.
A avaliação realizada pela CNT abrange diversos critérios, incluindo
pavimentação, sinalização, acostamento, pontes, dentre outros aspectos
fundamentais frequentemente utilizados por milhões de motoristas diariamente.
Esse cenário preocupa não apenas os usuários das vias, mas também o
setor de transporte rodoviário, responsável por movimentar 65% das cargas e
por atender a 95% dos passageiros no país. Conforme indicado pela pesquisa, os
custos operacionais do transporte rodoviário de cargas apresentaram um aumento
significativo de 32,7% em 2023 em virtude da precária conservação das
rodovias.
Gislaine Zorzin, diretora administrativa da Zorzin Logística, pondera a
necessidade de novos olhares para os investimentos em infraestrutura para
auxiliar as empresas de transporte continuarem entregando seus serviços.
“Temos bastante dificuldade com as malhas rodoviárias, o que causa um
impacto direto no andamento das operações. No último ano, nossa manutenção
de frota foi constante, visto que as estradas contêm muitas arestas,
buracos e afins. Precisamos de um olhar mais clínico e responsável para
que esse setor continue evoluindo”.
Ao longo da última década, o Brasil destinou, em média, menos de 2% do
Produto Interno Bruto (PIB) anual para investimentos em infraestrutura,
totalizando menos de R$ 200 bilhões por ano. A Confederação Nacional da
Indústria (CNI) estima que seria necessário, no mínimo, dobrar esse montante
de investimento ao longo de duas décadas para preservar a infraestrutura
existente e superar os desafios atuais.
Diante desse quadro, Gislaine realiza uma comparação entre a
infraestrutura brasileira e a europeia a partir de uma experiência pessoal.
Ela destaca que na Europa há notável foco e investimento em segurança
rodoviária, proporcionando uma experiência mais segura aos motoristas, aspecto
que merece atenção no Brasil.
“A manutenção constante é uma característica marcante nas estradas
europeias, em contraste com as rodovias brasileiras, que frequentemente
apresentam remendos e deficiências na sinalização, elementos cruciais na
prevenção de acidentes”, afirma a executiva.
Sinalização e segurança
Outro ponto observado com bastante frequência por aqueles que trafegam
pelas rodovias europeias é a eficácia da comunicação aliada à preocupação das
autoridades locais em alertar os usuários sobre questões como acidentes, obras
na pavimentação e outras medidas de conservação.
Marcel Zorzin, diretor operacional da Zorzin Logística, relata que, em
uma experiência recente dirigindo pela Europa, observou que a comunicação por
lá é extremamente eficiente na sinalização.
“Fazendo um paralelo com a comunicação do Brasil, percebe-se que aqui a
sinalização ou é pouco eficiente, ou, quando existe, é insuficiente. Na
Europa, ao me deparar com uma obra na pista que exigia um desvio, fui
avisado com antecedência de quase 2 km, com orientações claras sobre a
redução de velocidade e a faixa em que deveria trafegar. Isso faz uma
enorme diferença”, destaca o executivo.
Quanto à segurança, é inegável que o território brasileiro está atrás de
muitos países nesse quesito. Em 2022, o número de óbitos em acidentes de
trânsito no Brasil chegou a 31.174 registros. Apesar de uma aparente melhoria
em comparação com os anos anteriores, o Brasil, com uma população de 203
milhões de habitantes, ocupa o desconfortável terceiro lugar no ranking de
países em decorrência de acidentes de trânsito segundo o relatório Status
Report on Road Safety da Organização Mundial de Saúde (OMS). Nas primeiras
posições estão a Índia (com 1,428 bilhão de habitantes) e a China (com 1,425
bilhão de habitantes), respectivamente.
Marcel destaca que, apesar de não concordar com alguns limites de
velocidade tanto na Europa quanto no Brasil, compreende que são necessários
para garantir a segurança não apenas dos motoristas e passageiros, mas também
dos pedestres.
“Em Roma, por exemplo, estávamos atravessando uma vila, e o limite de
velocidade era de 30 km/h, o que fazia sentido, pois havia muitas crianças
e idosos nas ruas. Tudo foi pensado para evitar acidentes”, observa.
Por fim, os empresários do setor entendem que a demanda de tráfego nas
estradas brasileiras é significativamente mais intensa do que em outros
países. Por outro lado, mesmo assim é crucial uma resposta mais eficaz das
lideranças governamentais para contribuir ainda mais nessas questões.
“Eu percorro frequentemente o Rodoanel, que é essencial para o transporte
rodoviário de cargas, e percebo que é necessária uma melhoria na
comunicação e na informação dentro dele para sinalização de acidentes,
entradas e saídas da rodovia, dentre outros pontos. Isso com certeza
contribuirá para uma mudança de comportamento dos motoristas”, conclui o executivo.
Sobre Gislaine Zorzin:
Gislaine Zorzin é formada em logística pela Uniradial São Paulo e atua
como diretora administrativa e de novos negócios na Zorzin Logística. Além
disso, faz parte do Projeto 25, desenvolvido pela Associação Brasileira de
Transporte e Logística de Produtos Perigosos (ABTLP), e da Comissão de
Manuseio e Transportes (CMT) da Associação Brasileira da Indústria de Álcalis,
Cloro e Derivados (ABICLOR).
Sobre Marcel Zorzin:
Marcel Zorzin é diretor operacional da Zorzin Logística. Formado em
administração de empresas pelo Colégio Modelo, atualmente divide suas atenções
entre o cargo na transportadora e em atividades nas entidades de classe, sendo
diretor do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do ABC
(Setrans) e coordenador do núcleo da Comissão de Jovens Empresários (COMJOVEM)
do ABC.