Divulgação: Érico Pimenta / Portal Midia Truck Brasil |
Entre os principais pontos de atenção encontrados estão o envelhecimento de mão de obra, mudança no perfil dos habilitados e o desafio para estimular a nova geração na profissão
O Instituto Paulista do Transporte de Cargas (IPTC) divulgou um estudo
sobre a falta de motoristas de caminhão no Brasil, com foco nas transformações
ocorridas no perfil dos profissionais ao longo dos anos. A pesquisa revela um
envelhecimento da mão de obra e aponta para a necessidade de ações para
garantir a sustentabilidade do setor.
A economista do IPTC, Raquel Serini, destaca que este é um estudo
importante de monitoramento do mercado de trabalho do Transporte Rodoviário de
Cargas (TRC). Ela afirma que “ele impacta diretamente nas decisões de contratação, retenção e políticas
internas sobre a mão de obra essencial para a realização da
atividade”.
METODOLOGIA
O estudo contou com 3 etapas. A primeira foi a coleta e a separação de
dados retirados do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados),
DETRAN (Departamento Estadual de Trânsito) e SENATRAN (Secretaria Nacional de
Trânsito) entre 2011 e 2023. A segunda etapa foi a de organização e construção
de uma base detalhada de contratações, demissões e habilitações de motoristas
por classe.
Com foco em motoristas de caminhão CBO 7823-10, 7825-10 e 7825-15 -
Motorista de Furgão ou veículo similar, Motorista de Caminhão (rotas regionais
e internacionais) e Motorista Operacional de Guincho -, a análise abrange
diversos aspectos relevantes, incluindo a distribuição de motoristas
habilitados ao longo dos anos, a variação salarial entre diferentes regiões e
estados, as preferências demográficas e etárias dos motoristas.
Além disso, o estudo examina as políticas de contratação e as mudanças
no mercado de trabalho que impactam diretamente a disponibilidade de
profissionais no setor. “Compreender essa realidade é essencial para
desenvolver políticas e ações que possam mitigar a escassez de motoristas,
garantindo a eficiência e a sustentabilidade do transporte rodoviário de
cargas no país”, explica Serini.
DESAFIOS
Entre os principais pontos de atenção encontrados na pesquisa estão o
envelhecimento da mão de obra, a mudança no perfil dos habilitados e o desafio
para estimular a nova geração na profissão.
A idade média dos motoristas contratados aumentou significativamente nos
últimos anos, passando de 37 para mais de 40 anos. Também houve uma redução no
número de jovens habilitados e um aumento na faixa etária de 51 a 60 anos.
Serini afirma que “essa mudança pode refletir vários fatores, incluindo o envelhecimento
geral da população, mudanças nas qualificações exigidas para novos
empregos e possíveis barreiras à entrada de jovens no mercado de
trabalho.”
A pesquisa mostrou também que a falta de interesse dos jovens pela
profissão aliada às exigências cada vez maiores do mercado dificultam a
renovação da mão de obra. “Anteriormente, observava-se uma maior representação
de jovens nas faixas etárias de 18 a 30 anos, com uma tendência de crescimento
progressivo à medida que a faixa etária aumentava até os 50 anos”, afirma
Serini.
No entanto, segundo o estudo, em 2023, essa dinâmica mudou
consideravelmente pela diminuição na quantidade de habilitados nas faixas mais
jovens e um aumento significativo na faixa etária de 51 a 60 anos.
O estudo mostra que os jovens não tem mais interesse na profissão. Divulgação IPTC |
SOLUÇÕES E PERSPECTIVAS
Diante desse cenário, o IPTC propõe algumas ações para enfrentar a
crise de motoristas, como a capacitação e desenvolvimento, investimentos em
programas de treinamento e qualificação para os profissionais em atividade e
para novos profissionais no mercado. “A maior arma contra esse desafio é a
capacitação e a oportunidade. Muitas empresas estão investindo em programas
de treinamento, apadrinhando e subsidiando a troca da categoria da
habilitação para oferecer oportunidades à equipe”, conta Raquel.
De acordo com informações da American Trucking Associations (ATA), a
falta de motoristas é monitorada há 15 anos nos Estados Unidos, onde
chegaram a faltar 60 mil profissionais em 2018. A estimativa é que em 2028
faltem 160 mil motoristas. Já na Europa relataram faltar cerca de 127 mil
motoristas em 2019, principalmente em países como Inglaterra, Alemanha e
Espanha.
“As empresas do setor precisam se adaptar a essa nova realidade e
investir em soluções inovadoras para atrair e reter talentos. Além
disso, é fundamental que o poder público crie políticas públicas que
incentivem a formação de novos motoristas e a modernização do
setor", finaliza Raquel.